Chlamydophila felis: Uma Visão Atual sobre a Infecção Ocular Felina
Resumo
Chlamydophila felis (anteriormente classificada como Chlamydia psittaci var. felis) é uma bactéria intracelular obrigatória que afeta principalmente gatos domésticos, sendo uma das principais causas de conjuntivite infecciosa felina. Esta bactéria é de interesse tanto veterinário quanto de saúde pública, devido à sua alta transmissibilidade entre gatos e ao potencial zoonótico, embora este último seja considerado raro. O presente artigo revisa os aspectos clínicos, diagnóstico, tratamento e prevenção dessa infecção, com foco na relevância para a prática clínica veterinária e no bem-estar animal.
1. Introdução
Chlamydophila felis é uma bactéria gram-negativa pertencente à família Chlamydiaceae. Inicialmente classificada como Chlamydia psittaci, foi reclassificada com base em características genéticas e antigênicas. Embora sua transmissão para humanos seja considerada incomum, sua alta prevalência em populações felinas, especialmente em ambientes com aglomerações (como abrigos e gatis), torna sua identificação e controle fundamentais na medicina veterinária.
2. Transmissão e Epidemiologia
A transmissão ocorre principalmente por contato direto com secreções oculares, nasais ou orais de animais infectados. A infecção é comum em gatos jovens (com menos de 1 ano de idade), principalmente em ambientes com grande densidade populacional e falta de vacinação.
Fatores de risco incluem:
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Convivência com múltiplos gatos
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Condições sanitárias inadequadas
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Ausência de vacinação preventiva
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Situações de estresse imunológico
3. Manifestações Clínicas
Os sinais clínicos típicos incluem:
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Conjuntivite unilateral ou bilateral
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Hiperemia conjuntival
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Secreção ocular serosa ou mucopurulenta
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Espirros e secreção nasal (menos comum)
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Raramente, sinais sistêmicos como febre ou letargia
A infecção geralmente se limita ao trato ocular, mas pode predispor a coinfecções com outros patógenos respiratórios, como Mycoplasma felis, herpesvírus felino tipo 1 (FHV-1) e calicivírus felino.
4. Diagnóstico
O diagnóstico definitivo pode ser feito por:
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PCR (reação em cadeia da polimerase): método mais sensível e específico.
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Citologia conjuntival: pode revelar corpos elementares intracelulares.
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Cultura bacteriana: pouco utilizada devido à dificuldade de cultivo.
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Sorologia: útil em estudos epidemiológicos, mas limitada para diagnóstico clínico individual.
O diagnóstico diferencial deve incluir outras causas de conjuntivite felina, especialmente FHV-1 e calicivírus.
5. Tratamento
O tratamento de escolha é a administração de antibióticos que penetram bem em tecidos intracelulares, como:
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Doxiciclina (5-10 mg/kg uma vez ao dia por 3 a 4 semanas): antibiótico de primeira linha.
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Em casos onde a doxiciclina é contraindicada, pode-se usar azitromicina ou tetraciclina tópica.
É essencial completar o tratamento mesmo após a remissão dos sintomas, para evitar recaídas ou portadores assintomáticos.
6. Prevenção
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Vacinação: existe vacina comercial contra Chlamydophila felis, geralmente incluída em vacinas múltiplas felinas (tipo V4 ou V5). Embora não previna completamente a infecção, reduz a gravidade e a disseminação.
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Higiene e controle populacional: ambientes limpos e controle de natalidade reduzem surtos.
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Isolamento de animais sintomáticos: essencial para evitar a propagação.
7. Considerações Zoonóticas
Embora raros, há relatos esporádicos de infecção ocular em humanos imunocomprometidos após contato com gatos infectados. A manipulação adequada e a higiene das mãos são medidas eficazes de prevenção.
8. Conclusão
Chlamydophila felis representa uma causa importante de conjuntivite em felinos, especialmente em ambientes com múltiplos gatos. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para o controle da infecção. A vacinação, junto a boas práticas de manejo, desempenha papel crucial na prevenção. Apesar do baixo risco zoonótico, a atenção à higiene e à biossegurança é recomendada.
Referências
ISBN:9788572418416
Edição: 2010
Editora: Roca
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Dr. Roque Antônio de Almeida Junior CRMV 23098 😊🐶
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